
Entrevista Folha de São Paulo: Para marqueteiro de Crivella, vez é dos outsiders da política
Entrevista publicada na Folha de São Paulo – por Italo Nogueira
Responsável pelo tom agressivo na reta final da campanha do prefeito eleito do Rio, Marcelo Crivella (PRB), o marqueteiro Marcello Faulhaber afirma que a próxima eleição será dominada por candidatos de fora da elite política do país. Os “outsiders” não precisam ser, para Faulhaber, neófitos no mundo político. A lista de nomes com longa carreira eleitoral e, para ele, com esse potencial inclui Ciro Gomes (PDT), Jair Bolsonaro (PSC) e Marina Silva (Rede). “Quem vier com o discurso bonitinho, arrumadinho, da câmera está morto”, diz o publicitário. Engenheiro de formação, Faulhaber foi o mentor de peças vinculando o adversário Marcelo Freixo (PSOL) ao comunismo e à tática black bloc. Incentivou também os ataques de Crivella à mídia. “Ninguém é obrigado a lidar com a imprensa”, diz.
Folha – Como Marcelo Crivella venceu mesmo com as críticas à sua candidatura?
Marcello Faulhaber – Antes ele sofria e não sabia reagir. Dessa vez reagiu de forma corajosa. Isso deu postura de líder a ele.
A relação com a imprensa se deteriorou muito.
Ele achava que tudo o que falava era deturpado. E era.
Não é um argumento de quem não soube lidar com a mídia?
Acho que ninguém é obrigado a lidar com a imprensa.
Esse comportamento não é a pós-verdade de que se fala, que não discute fatos?
A credibilidade da imprensa está baixa. Muitas pessoas diziam: “Não ia votar em você, mas como está batendo na imprensa, vou votar”. As pessoas estão se sentindo enganadas. Nós pesquisamos isso, não atacamos de graça.
É um movimento semelhante ao de Donald Trump, nos EUA?
A imprensa não é dona da verdade. O Trump mostrou isso. Ele também sofreu com a imprensa. Os dois são “outsiders”, apesar do Crivella ter 12 anos de mandato. No Senado ele é visto assim. Não faz parte de corriola nenhuma. É a tendência para 2018? O agravamento da crise econômica eleva as chances dos candidatos de fora do “status quo”. Quem vier com o discurso bonitinho, arrumadinho, da câmera está morto. Tenho dúvidas se uma campanha do [governador Geraldo] Alckmin voa, do [presidente Michel] Temer…
Bolsonaro é um “outsider”, mesmo sendo deputado há cinco mandatos?
Talvez o maior de todos. Foi sempre um “outsider”, como o [Fernando] Gabeira sempre foi. Ele não é do jogo do toma lá, dá cá, dos acordos na madrugada. O Ciro Gomes também é um “outsider”. Faz política desde os 23 anos de idade, mas nunca tentou ser politicamente correto. Um “outsider” pode ter tido carreira política? O [prefeito eleito de São Paulo] João Doria é mais “outsider” do que o Ciro Gomes? De jeito nenhum. Ele faz encontros anuais e convida a turma do establishment intelectual, financeiro e artístico do Brasil há 20 anos. O Luciano Huck é um “outsider”? Não. Quem são os amigos do Luciano Huck? Não vai achar que o Roberto Justus é um “outsider”… O Doria vendeu muito bem que ele é um “outsider”. E ele é. Mas a comparação é de quem tem mais condição de romper com o “status quo”. A Marina Silva é uma “outsider”.
Marina não tem esse perfil de ir contra o politicamente correto.
Nos Estados Unidos, antes de eles se definirem pelo Trump, um rompimento radical, eles optaram pelo [presidente Barack] Obama, um “outsider” light. Uma tentativa fazer as mudanças no amor. Agora foi na porrada.
Esse perfil não é uma chance do populismo?
É um risco que se corre. Vai depender da sabedoria da população.
Um nome como Trump tem condições de chegar à Presidência? Aqui não há primárias como as que o Trump venceu, contrariando a cúpula partidária. Eles não precisam entrar no jogo político, mas sim num partido. O [prefeito eleito de Belo Horizonte, Alexandre] Kalil entrou no PHS. O que é o PHS? Qual a ideologia do PHS? Não faço ideia. Mas ganhou a eleição em Belo Horizonte, capital de Minas Gerais, síntese do Brasil como indicam os mapas eleitorais