Entrevista O Globo: No Rio, a chave é dialogar com o eleitor médio, diz o marqueteiro Marcello Faulhaber
Para estrategista de campanha, governo do estado será conquistado por candidato com tom moderado, mas que não deixe de tomar de tomar posição em eleição polarizada
RIO — Estrategista das campanhas vitoriosas de Marcelo Crivella (Republicanos), em 2016, e Eduardo Paes (DEM), em 2020, à Prefeitura do Rio, o marqueteiro Marcello Faulhaber projeta que o governo do estado será conquistado em 2022 por um candidato que consiga, ao mesmo tempo, adotar um tom moderado em meio à radicalização da disputa entre o presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e, ainda assim, não deixar de tomar um lado na disputa.
Qual será a importância da polarização nacional para a eleição no Rio?
Não dá para separar uma eleição nacional da estadual. Isso acontece quando há erro na formação dos palanques. Em 2022, há uma chance alta de o segundo turno para a Presidência ser entre Bolsonaro e Lula, sem chance para uma terceira via. Os dois serão os grandes “eleitores” no país, e o sucesso no Rio dependerá da força de cada um para aglutinar forças numa única candidatura.
Qual o perfil ideal em 2022?
Um candidato moderado em relação aos costumes e à Segurança Pública pode ganhar a eleição em segundo turno, mas antes precisará assumir um lado entre Bolsonaro e Lula no primeiro. A chave é dialogar com o eleitor médio: pobre e conservador, além de quase sempre cristão.
Por que esses temas?
A igreja, em qualquer religião, é o lugar onde o brasileiro se sente igual ao outro, mesmo num dos países mais desiguais do mundo. E as religiões são conservadoras nos costumes e cautelosas quanto a políticas violentas na segurança.
A esquerda estuda lançar Marcelo Freixo, com o apoio de Lula e de uma frente que reúna o centro. É viável?
O jogo tem que ser jogado enquanto se olha para as peças que o outro lado está movimentando. Freixo carrega uma carga ligada a pautas identitárias e pode prejudicar a força de Lula no Rio, afastando eleitores que gostam do ex-presidente e rejeitam discussões sobre costumes. O deputado também pode acabar perdendo para um moderado nesses temas, como o governador Cláudio Castro.
Freixo pode reverter essa carga? Castro é forte, mesmo pouco conhecido pelo eleitor?
É possível trabalhar a imagem de Freixo, mas minha percepção é de que isso não é viável para 2022. Ele é muito importante na eleição para a Câmara dos Deputados, mas, para uma majoritária precisa estar menos conectado às pautas identitárias. Castro teria vantagem ao formar um bloco político forte e se manter razoável e equilibrado mesmo aliado a Bolsonaro.
O cenário embaralhado no Rio é sinal que faltam lideranças?
Não há um vácuo, mas talvez não haja uma consolidação como no passado com Sérgio Cabral, Anthony Garotinho e Cesar Maia, que conseguiram agrupar consigo muitos prefeitos e parlamentares. Talvez 2022 marque a ascensão de um novo grupo naqueles moldes.
O senhor foi denunciado pelo Ministério Público (MP), ao lado de Crivella, no caso do “QG da propina”. O senhor atuou para beneficiar empresários?
Não tenho nada a ver com isso. Apresentei o Rafael Alves, com quem tive proximidade na campanha do Crivella, ao (empresário) Arthur Soares. Depois, fui chamado para uma reunião com o objetivo de falar das chances de êxito da candidatura (de Crivella) para o Arthur. Ninguém conversou sobre dinheiro. Foi uma barbeiragem do MP. Era para eu ter sido arrolado como testemunha. Espero que tudo seja investigado e se resolva.